RESGATE
Sedes e Polícia Militar resgatam idoso que vivia há 11 anos em cárcere privado
Ele encontrava-se há três dias sem comer e beber
Publicado em: 07/02/2022 por Sara Batalha
Acamado em ambiente totalmente insalubre, debilitado, com fome e sede, foi assim que policiais e a equipe de abordagem da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Sedes) encontraram o senhor O. A. da S., 74 anos, abandonado em uma residência no bairro Nova Imperatriz, no último sábado (05). Graças a uma denúncia anônima recebida pelo número 190 da Polícia Militar, a situação de abandono de incapaz foi confirmada, e em ação conjunta com a Sedes, o idoso foi resgatado.
Ele foi alimentado e hidratado pelos policias e equipe da assistência com ajuda de vizinhos, ainda na casa, depois levado ao Hospital Municipal de Imperatriz (HMI), onde recebeu atendimento médico, passou por exames, e em seguida, foi acolhido em um dos abrigos mantidos pela Sedes. Além de viver enclausurado e em abandono, O. A. sofria maus-tratos e provável violência financeira por parte de um sobrinho, que vivia com ele, mas não se encontrava no local no momento da abordagem.
Maria Cleia Pereira, uma das assistentes sociais que prestou o atendimento explica que: “Nós, do Serviço Social, nas Políticas de Proteção à Pessoa Idosa, assumimos o compromisso de intervir e viabilizar os direitos propostos dentro da Proteção Social Especial. E o órgão responsável, Centro Referência Especializado de Assistência Social (Creas) assume o atendimento das denúncias de violação de direitos da pessoa idosa. Foi por meio do Creas (informado pela PM), que recebemos a denúncia”, informou.
Cleia, assim como todos os envolvidos no resgate, se emocionou com o caso e conta sobre o acolhimento humanizado: “Quando estávamos indo para o HMI, eu perguntei a ele qual foi a última vez que ele havia sido abraçado, ele respondeu que não lembrava mais, ali eu prontamente o abracei bem forte, ele chorou e eu fiquei muito emocionada e feliz em saber que a partir dali, a vida dele iria mudar. Ele passou 11 anos em cárcere privado”, disse Cleia com os olhos marejados.
O resgate
Os policias tentaram contato verbal com o senhor pelo lado de fora da casa, mas não lograram êxito, então, entraram no local pelo muro do quintal, visto que a porta da frente estava trancada. O tenente Anderson Arraes, que atendeu pessoalmente à ocorrência, deu detalhes da situação em que encontrou o senhor: “O que vi quando pus os pés naquele recinto me deixou sem ar, um senhor extremamente magro e assustado, despojado de vestes e carcomido pela fome sobre um colchão pútrido com forte odor de urina e fezes e ratos embaixo da cama”, revelou.
Ele se aproximou com cuidado para não assustá-lo, e conta ainda da emoção de quando o idoso pediu apenas para que ele lavasse seu rosto, pois não banhava há alguns dias. “Aquele senhor não consegue andar, muito menos defender-se da maldade humana e partiu-me o coração quando ele me disse que estava ali apenas esperando a morte, pois não era mais um ser humano”.
“Ouvir aquilo fez meu peito pesar e lembrei-me de um trecho da Oração das Forças Especiais que diz: "Nós, os homens das Forças Especiais, reconhecemos nossa dependência do Senhor, na preservação da liberdade humana, Estejais conosco, quando procurarmos defender os indefesos e libertar os escravizados", citou Anderson a oração.
Arraes destacou o trabalho em rede: “Sou muito grato pelo apoio do sistema Creas, da Promotoria do Idoso e da Sedes, sem eles a missão não teria sido cumprida com a excelência e eu não teria conseguido ver o sorriso no rosto e as lágrimas nos olhos do senhor O. A. da S.”, agradeceu.
Estiveram envolvidos diretamente no caso o tenente Anderson Arraes, comandante do Grupo de Operações Especiais de Imperatriz e soldado Jares (3° BPM, sob o comando do sr. Major Anderson, que acompanhou a ocorrência), as assistentes sociais Maria Cleia Pereira (Setor de Abordagem Social), Daniela Silva e Thamara Magna de Sousa (do Creas) e Promotoria do Idoso.
Agência de Inteligência da Polícia Civil tem demandado buscas para encontrar o sobrinho e em breve ele deve ser apresentado ao Plantão Central da Polícia Civil. Nos próximos dias, o idoso será institucionalizado em um abrigo específico para idosos da cidade, por meio de encaminhamento do Ministério Público.
Como denunciar
Conhece algum caso parecido? Denuncie! Você pode entrar em contato com a Polícia pelo número 190, ou ligar para a equipe de abordagem social da Sedes, pelo número 99146-0947. Garantido sigilo. Não se cale, sua ajuda pode salvar a vida de alguém.