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REEDUCAÇÃO

Centro de Atendimento a Autores de Violência Contra a Mulher completa um ano

No total 128 homens foram atendidos pelo órgão

Publicado em: 25/11/2022 por Kalyne Cunha

Secretaria de Políticas para Mulher

Centro de Atendimento a Autores de Violência Contra a Mulher completa um ano

Autores que passaram pelos grupos de reflexão, não voltaram a cometer os mesmo crimes. (Foto: Maira Soares)

Inaugurado em 2021, o Centro de Atendimento a Autores de Violência contra a Mulher comemora nesta sexta-feira (25), um ano de funcionamento. Órgão da Prefeitura é um projeto vinculado a Secretaria de Governo e Projetos Estratégicos (Segov), em parceria com a Faculdade de Educação Santa Terezinha (FEST), órgãos do Judiciário e da rede de enfrentamento à violência contra a mulher, e registrou 128 atendimentos desde seu funcionamento.

A Lei n.º 13.984, de 3 de abril de 2020, alterou o artigo 22 da Lei Maria da Penha, n.º 11.340/2006, incluindo duas medidas protetivas de urgência: a frequência do agressor a centro de educação e de reabilitação e seu acompanhamento psicossocial por atendimento individual ou em grupo de apoio, de forma obrigatória. Caso se omita, o agressor comete outro crime.

O secretário de Governo e Projetos Estratégicos, Eduardo Soares, explana sobre a importância e o papel social do Centro, para a cidade. “Esse projeto da rede de enfrentamento da Prefeitura de Imperatriz está rompendo o ciclo de violência contra a mulher em nossa cidade, onde mais de 128 homens participaram, e como feedback mais positivo é que não voltaram a praticar atos de violência, e esse é o resultado esperado com o trabalho e hoje estamos comemorando um ano desse trabalha que com certeza já salvou muitas vidas”.

A juíza titular da Vara Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Ana Paula, que foi uma das palestrantes convidadas do evento, pontuou a relevância do projeto ao nível estadual e foi mais além. “Esse projeto é importante não só para Imperatriz, pois servirá como referência para o Estado do Maranhão e possivelmente para o Brasil, pois temos poucos órgãos dessa natureza no país. A ideia é que haja uma mudança no modo de pensar desse homem, para desenvolver condutas diferentes no lar, condutas não violentas”.

Como mudança de comportamento, o defensor público Fábio Carvalho expôs o Centro como desenvolvedor de um papel primordial para a sociedade. Para ele é “uma perspectiva de mudança cultural. Não basta apenas a punição, se há a cultura da violência e se a cultura do machismo permanece. Um equipamento como esse que tem a perspectiva educacional de reabilitação do agressor vem ao encontro da principal realidade social, que é a que devemos ter uma sociedade sem violência onde as mulheres possam viver”.

Um dos administradores do projeto, Euclenia Araújo, fala sobre o diferencial dos serviços ofertados em relação a outros existentes no país e avalia os atendimentos prestados e faz um balanço positivo, por conta da não reincidência dos autores no mesmo crime. “Além de ser um serviço novo ao nível de Brasil, o Centro de Atendimento a Autores de Violência contra a Mulher vem recebendo esse autor nas questões de medida protetiva e temos verificado que não há reincidência. Os que chegaram até aqui foram atendidos individualmente ou em grupos reflexivos e não retornaram. Isso é um ponto positivo dos serviços”.

A administradora relata que o diferencial dos serviços é o atendimento individualizado, onde é ofertado o psicológico, o social e o pedagógico, que juntamente com a rede de enfrentamento, busca a intersetorialidade, que são os encaminhamentos das políticas públicas desse autor.

Responsável pelo projeto, Maria da Conceição Chaves, que também é assistente social, destaca que só o fato do serviço de proteção à mulher existir e funcionar é positivo. “É um avanço esse pré-requisito na Lei Maria da Penha, dos homens estarem vindo e participando, pois percebemos a resistência inicial desse autor e depois tem uma abertura para o que é desenvolvido no Centro, um trabalho de escuta, um trabalho de grupo e os atendimentos individuais e coletivos”.

Sobre os atendimentos, a pedagoga Tatiana Alencar descreve a metodologia utilizada onde o autor de violência, ao chegar ao Centro, passa por entrevista inicial e posteriormente uma avaliação com técnicos, realizada no sentido de averiguar o contexto do sentido de vida e se há a necessidade de encaminhamento para outros serviços da rede.  Os autores, também, são avaliados para saberem se estão aptos a participarem das atividades desenvolvidas, especialmente no que se refere as coletivas, como os grupos reflexivos.

“A maioria dos assistidos começam a refletir sobre crenças, valores, pré-conceitos que trazem arraigados como sendo algo natural, como ser grosso, proibir, brigar, ser mais incisivo, que trazem como natural do ser homem em relação ao ser mulher”.

Nesse contexto são realizados discursos e reflexões para um processo de mudança e de comportamento, como discorre Tatiana. “Aonde apenas havia um ponto de afirmação por esse homem como: Eu posso! Eu devo! Comece a ter um ponto de interrogação: será se isso é correto? Será se é essa postura que tenho que ter? Será se a minha parceira não vai sofrer com determinado posicionamento? Será se não terei problemas com a justiça tendo esse tipo de comportamento?”, conclui.

Sobre as atividades realizadas no Centro, a psicóloga Zaira Karan discorreu sobre as que mais lhe chamaram atenção. “É o fato deles se surpreenderem com o que é o machismo tóxico, questões de gênero e de ficarem felizes de terem a oportunidade de conversarem e refletir sobre frustrações que tiveram nos relacionamentos. E entender que eles têm um poder de escolha também. Ter um relacionamento, onde a violência não seja a forma de comunicação”.

Um dos autores encaminhado ao Centro, que por motivos de segurança não pode ter a identidade revelada, fala da experiência vivida. “De começo eu não gostei, porque achei que era uma perda de tempo, que iria ter discriminação, mas é muito importante  para a pessoa ver como funciona. Pois às vezes você não sabe nem que há lei para determinada situação e haje erradamente. Às vezes você faz algo que não sabe que é errado, e no Centro você tem informação”.

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